sábado, 26 de junho de 2010

Não procure ser bom, procure ser consciente

Amado Osho,
Recebi sannyas há sete anos.
Você me falou sobre a testemunha e sobre o observar.
Quando você terminou, e antes que eu pudesse ir embora, você me parou e disse: “E você é um bom homem”.
Amado Mestre, o seu amor e a sua graça estiveram comigo nesses sete anos.
Eu ainda estou pasmado: O que é um bom homem?

. Veet Mano, eu me lembro de ter dito a você: “Você é um bom homem”, pois lhe dei o nome, Veet Mano.
Veet Mano significa ir além do bom homem.
A moralidade está preocupada com boas e más qualidades.
De acordo com a moralidade, uma pessoa que é honesta, verdadeira, autêntica e confiável é boa.
Mas a moralidade não é religião; mesmo um ateísta pode ser uma boa pessoa, pois todas essas qualidades de boa pessoa não incluem a divindade...
Eu lhe disse, você é um bom homem; assim, o trabalho para você não é apenas ser bom, mas transcender a dualidade de bom e mau.
A pessoa religiosa não é somente uma boa pessoa, ela é muito mais.
Para a boa pessoa, a bondade é tudo; para a pessoa religiosa, a bondade é apenas um subproduto.
A pessoa religiosa é aquela que conhece a si mesma, aquela que está consciente de seu próprio ser.
E no momento em que você está consciente de seu próprio ser, a bondade o segue como uma sombra.
Então, não há necessidade de qualquer esforço para ser bom; a bondade se torna a sua natureza.
Da mesma maneira que as árvores são verdes, a pessoa religiosa é boa.
Mas a boa pessoa não é necessariamente religiosa.
Sua bondade vem a partir de um grande esforço; ela está lutando contra as más qualidades... mentira, roubo, insinceridade, desonestidade, violência.
Elas estão na boa pessoa, porém reprimidas... elas podem eclodir a qualquer momento.
A boa pessoa pode transformar-se numa má pessoa muito facilmente, sem qualquer esforço, pois todas essas más qualidades estão presentes, apenas dormentes, reprimidas com esforço.
Se você remover o esforço, elas imediatamente eclodirão em sua vida.
E as suas boas qualidades são somente cultivadas, e não naturais: você tentou arduamente ser honesto, ser sincero, não mentir, mas foi um esforço, foi cansativo...
A boa pessoa está sempre séria, pois tem medo de todas as más qualidades que ela reprimiu; e ela é séria porque no fundo deseja ser reverenciada pela sua bondade, ser recompensada.
Seu anseio é ser respeitável.
Seus pretensos santos são na maioria apenas boas pessoas.
Eu lhe dei o nome: transcenda o bom homem, e existe somente uma maneira de transcender o bom homem, que é pelo trazer mais consciência a seu ser.
A consciência não é algo a ser cultivado; ela já está presente, e apenas precisa ser desperta.
Quando você está totalmente desperto, tudo o que você faz é bom, e tudo o que você não faz é mau.
A boa pessoa precisa fazer imensos esforços para fazer o bom e para evitar o mau.
O mau é uma tentação constante para ela.
É uma escolha: a cada momento ela precisa escolher o bom e não escolher o mau.
Por exemplo, um homem como Mahatma Gandhi: ele é um bom homem; por toda a sua vida ele tentou arduamente estar do lado do bom, mas mesmo na idade dos setenta ele tinha sonhos sexuais, e ele ficava muito angustiado:
“No que se refere às minhas horas de acordado, posso me manter completamente livre do sexo, mas o que posso fazer no sono?
Tudo o que reprimo no dia vem à noite”.
Isso demonstra que a coisa não foi a lugar nenhum; ela ficou dentro de você, apenas esperando.
No momento em que você relaxa, no momento em que você remove o esforço...
e adormecido, você precisa pelo menos relaxar e remover o esforço de ser bom... todas as más qualidades que você reprimiu começarão a se tornar os seus sonhos..
Seus sonhos são os seus desejos reprimidos.
A boa pessoa está em contínuo conflito.
Sua vida não é de alegria; ela não pode rir de verdade, ela não pode cantar, não pode dançar.
Em tudo, continuamente ela faz julgamentos.
A sua mente está repleta de condenação e julgamento; e porque ela própria está tentando arduamente ser boa, ela também está julgando os outros pelo mesmo critério.
Ela não pode aceitá-lo como você é; ela pode aceitá-lo se você preencher as suas demandas de ser bom.
E porque ela não pode aceitar as pessoas como elas são, ela as condena.
Todos os seus santos estão cheios de condenação para com todo mundo: todos vocês são pecadores.
Essas não são as qualidades da pessoa religiosa autêntica.
A pessoa religiosa não tem julgamento, não tem condenação.
Ela sabe uma coisa: que nenhum ato é bom, nenhum ato é mau; a consciência é boa e a inconsciência é má.
Em inconsciência, você até pode fazer algo que pareça bom para o mundo inteiro, mas para a pessoa religiosa isso não é bom.
E você pode fazer algo mau e ser condenado por todo o mundo, exceto pela pessoa religiosa.
Ela não pode condená-lo, pois você está inconsciente.
Você precisa de compaixão, e não de julgamento, e não de condenação...
você não merece o inferno, ninguém merece o inferno.

. À medida em que a sua meditação se aprofunda, o seu testemunhar se torna grande.
Quando você recebeu sannyas há sete anos, era isso o que eu estava lhe dizendo sobre o testemunhar e o observar.
Eu me esqueci de lhe dizer para não pensar que o testemunhar e o observar nada mais são do que boas qualidades.
Foi por isso que quando você estava partindo eu o parei de novo e lhe disse que você já era um bom homem.
Assim, algo mais está implícito no transcender a dualidade do bom e do mau.
Ao chegar num ponto de absoluta consciência, não existe a questão de escolha... você simplesmente faz tudo o que é bom.
Você o faz inocentemente, da mesma maneira que a sua sombra o segue, sem esforço.
Se você correr, a sombra corre;
se você parar, a sombra pára...
mas não há esforço por parte da sombra...
A pessoa de consciência não pode ser considerada sinônima da pessoa boa.
Ela é boa, mas de uma maneira muito diferente, de um ângulo muito diferente. Ela é boa não porque esteja tentando ser boa;
ela é boa porque ela é consciente...
e na consciência, o mau, o vil e todas aquelas palavras condenatórias desaparecem, como a escuridão desaparece na luz.
As religiões decidiram permanecer somente como moralidades.
Elas são códigos éticos; elas são úteis para a sociedade, mas não úteis para você, não úteis para o indivíduo.
Elas são conveniências criadas pela sociedade.
Naturalmente, se todos começassem a roubar, a vida se tornaria impossível; se todos começassem a mentir, a vida se tornaria impossível; se todos fossem desonestos, você absolutamente não poderia existir.
Assim, no nível mais baixo, a moralidade é necessária para a sociedade; ela é uma utilidade social, mas não uma revolução religiosa...
Não fique satisfeito em apenas ser bom.
Lembre-se, você precisa chegar a um ponto onde você não necessita nem mesmo pensar sobre o que é bom e o que é mau.
Sua própria percepção, sua própria consciência simplesmente o leva em direção àquilo que é bom... não existe repressão.
Eu não chamaria Mahatma Gandhi de um homem religioso; somente de um bom homem...
e ele tentou realmente com persistência ser bom.
Não suspeito de suas intenções, mas ele estava obcecado pela bondade.
Uma pessoa religiosa não está obcecada por nada...
ela não tem obsessão.
Ela está apenas relaxada, calma e quieta, silenciosa e serena.
A partir de seu silêncio, tudo o que floresce é bom, sempre é bom...
ela vive numa consciência sem escolha.
Este é o significado de seu nome, Veet Mano: vá além do conceito comum de um bom homem.
Você não será bom, não será mau.
Você será simplesmente alerta, consciente, perceptivo, e então, tudo o que segue será bom.
De uma maneira diferente, posso dizer que em sua total consciência você atinge a qualidade da divindade...
e bom é somente um subproduto muito pequeno da divindade......
As religiões o ensinaram a ser bom, de tal modo que um dia você possa encontrar Deus.
Isso não é possível; nenhuma boa pessoa jamais encontrou a divindade.
Estou ensinando justamente o contrário: encontre a divindade e o bom virá espontaneamente.
E quando o bom vem espontaneamente, ele tem uma beleza, uma graça, uma simplicidade, uma humildade;
ele não pede por nenhuma recompensa aqui ou depois.
Ele é a sua própria recompensa.
OSHO – The Rebellious Spirit - Cap. 19 - pergunta 1
Tradução: Sw. Anand Nisargan

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