sábado, 25 de setembro de 2010

As letras sagradas
Publicado por Maria Elisete

As letras sagradas funcionam como um 'molde' da luz do mundo infinito.
Quando as pessoas falam em cabala, falam como se fosse uma coisa só, um conhecimento só, uma sabedoria única e que esta em evidência atualmente.
Mas na verdade quando estamos falando em cabala estamos falando de algumas escolas diferenciadas.
Existe a escola Teurgica, que é a mais conhecida e foi a que mais se popularizou neste processo de abertura do conhecimento de cabala e onde temos mais literatura e existe a escola Abulafiana que é a escola contemplativa.
É uma escola que correu em paralelo com a escola teurgica.
Elas possuem objetivos comuns, interesses comuns, uma visão comum a cerca do universo, a cerca da criação e toda parte que diz respeito a Obra da Criação.
Na verdade existe uma ou outra divergência no processo de descrição desse ato da criação, porém vale lembrar que elas não são divergentes.
No que diz respeito ao uso e a forma de enxergar as ferramentas contemplativas dentro do processo de uso da cabala, existem algumas diferenças, por exemplo, Abuláfia, que foi o grande expoente histórico da cabala contemplativa no século 13 foi o cabalista que mais escreveu sobre o que as pessoas hoje conhecem como os 72 nomes de Deus.
A maior parte das obras dele (foram 32 ao todo) mencionam os 72 nomes de Deus e algumas são explicitamente acerca Deles.
Bem na verdade não são 72 nomes de Deus, são 72 sopros (ou espíritos,) de Elohim, como são conhecidos pela tradição contemplativa.
Então não são nomes de Deus no que diz respeito a um nome de Deus como falar Adonai, Hashem, ou como falar o nome El, Shadai, etc., ou seja, estes nomes que se apresentam na tabela dos 72 nomes de Deus não são exatamente nomes de Deus.
Você poderia chamar Deus ou nominar Deus a partir deles são sopros, são como forças, são 72 forças de Elohim.
Elohim sim, um nome de Deus.
São 72 forças que derivam da energia de um atributo de Deus denominado Elohim.
Para a cabala Deus é um código, e Elohim é uma palavra código que esta associada a energia de julgamento.
Essa energia de julgamento esta por sua vez ligada a uma força de remoção ou adiantamento do ato de ultrapassar obstáculos.
A primeira vez que este composto (assim que ele deve ser visto) de sopros, de forças, foi utilizado com eficácia foi quando os hebreus saíram do Egito e se depararam com um obstáculo.
Na verdade os 72 sopros de Elohim são uma composição de 3 versículos da Torá, que compostos e organizados de uma determinada forma compõem esta permutação.
E uma vez que estes nomes tenham sido usados, eles conseguiram abrir o mar vermelho.
(Assim é que esta escrito na história).
Porém, é claro que há todo um código por trás disso.
Continuando:
O fato é que eles conseguiram um milagre, eles conseguiram ultrapassar uma barreira, ultrapassar um obstáculo se utilizando destas forças.
Portanto, nós não podemos ver esse composto como um composto isolado.
É claro que você tem energias ali isoladas que podem ser utilizadas e destacadas para um determinado fim, mas quando se diz respeito a utilização dos 72 sopros de Elohim, eles devem ser vistos como um composto conjunto, uma massa conjunta que tem um objetivo, um propósito.
Por exemplo:
Eu posso “pegar” Vav-Hei-Vav e usar para uma finalidade, posso direcionar para uma finalidade.
Eu posso “pegar” Mem-Hei-Shim e usar para uma finalidade.
Mas esta é a porção menor dessa força, eu retiro um componente, um “tijolo” da construção.
(É claro que um tijolo tem uma serventia mas é apenas um tijolo, não forma a construção como um todo).
Portanto, os 72 sopros de Elohim é uma construção composta e essa construção composta tem um objetivo e o objetivo é de reconstruir a condição do milagre no ser humano.
Reconstruir a condição do ser humano como um ser espiritual.
O que na verdade os 72 sopros de Elohim fizeram não foi a abertura do mar e sim despertar nos seres humanos ou seja as pessoas que ali estavam, a capacidade de produzir o milagre, de alcançar a dimensão do milagre.
A forma mais elevada, segundo a cabala contemplativa, de se utilizar os 72 nomes de Elohim é através de seu composto total.
Não que usar separadamente esteja errado assim como usar um tijolo não é errado mas a forma mais elevada de se usar um tijolo é quando ele se dispõem a construir alguma coisa, quando ele se dispõem a montar, elaborar uma construção.
E como deveria ser feita esta meditação?
Deveria ser feita no bloco todo dos 72 sopros de Elohim contemplando na forma correta.
E a forma correta de contemplação é sempre visualizando, focando a visão, no espaço em branco ao redor das letras.
O poder não esta nas letras, o poder esta no espaço que as letras geram em torno delas.
No entorno delas..
Este tipo de contemplação, os antigos cabalistas chamavam de fogo branco sobre fogo preto ou fogo preto sobre fogo branco.
Os espaço branco em torno das letras pretas ou o espaço preto em torno das letras em branco.
O ideal é sempre preto sobre o branco.
Não devemos visualizar letras coloridas, pois segundo os antigos, nada disso é válido.
Bem, a questão que se apresenta agora é.
Para que?
Bem, o objetivo da cabala não é o de melhorar a sua vida, no sentido de ficar mais rico, ou ficar mais próspero, ou ficar mais bonito, ou alcançar a iluminação ou ainda fazer chegar a alma gêmea.
Não.
O objetivo da cabala não é esse.
Se isso vier, ótimo.
Mas o real objetivo da cabala é melhorar o mundo, é o Tikun Olam, é a elevação, a correção da humanidade como um todo.
Pois bem, então sempre que você estiver meditando, contemplando o nome de Deus ou os 72 sopros de Elohim ou fazendo uma oração ou qualquer coisa neste sentido o foco deve ser sempre a humanidade.
O foco deve ser sempre o ato e o desejo de compartilhar com a humanidade.
Uma vez que você tenha o foco na necessidade da humanidade naturalmente o seu receptor aumenta por que se torna um receptor de toda a humanidade.
Se você tem um problema de saúde, por exemplo, e aí você “pega” o sopro Mem-Hei-Shim que tradicionalmente é indicado como sendo um sopro para cura.
Você “pega” o sopro para curar o seu resfriado, por exemplo, ora, isso terá uma eficácia muito pequena.
Por que quem criou o seu resfriado foi uma entidade externa?
Não.
Foi você mesmo.
Segundo a cabala, através daquilo que nós chamamos de receptor, recipiente, ou kli, nós criamos as coisas que estão acontecendo na nossa vida.
Se eu tenho o receptor para um resfriado, eu tenho um resfriado.
Se eu tenho um receptor para a cura do resfriado eu terei a cura.
E esse receptor é construído através da história de minha vida, da minha consciência.
Não é construído através de uma ação local, não é porque eu faço isso ou faço aquilo ou olho pra cá ou olho pra lá, vejo isso, pronuncio uma palavra, que eu mudo este receptor.
Este receptor é um processo complexo por que ele é constituído e construído através de toda uma postura existencial, de todo um comportamento existencial que passa pela visão da vida, passa pela forma como eu enxergo a existência, etc.
Se eu tenho um receptor estreito para a cura e consequentemente eu fico resfriado ou alguma coisa do gênero e eu visualizo, contemplo uma permutação de letra isso não vai mudar este receptor, não é o suficiente, é preciso algo mais.
Agora, se eu tiver resfriado, contemplo Mem-Hei-Shim e com base nisso, com base nessa contemplação, desejo não a cura de meu resfriado, mas sim a cura de toda a humanidade a quantidade de luz, a quantidade de fluxo de Shefá que vem em minha direção é a quantidade para a humanidade, não a quantidade para mim.
Por que às vezes a quantidade para mim não é o suficiente por que eu não tenho naquele momento o receptor aberto para a cura.
Mas se eu desejar, com base naquela meditação, a cura de toda a humanidade, o que vem pra mim é a quantidade de luz espiritual para toda a humanidade e na carona disso eu recebo mais que o meu receptor esta apto a receber por que eu recebo para compartilhar e uma vez que eu recebo para compartilhar passa por mim, através de mim uma quantidade muito maior de fluxo divino, de fluxo espiritual que será, obviamente conduzido para a humanidade e que na carona disso permitirá que a cura aconteça.
Portanto toda e qualquer forma de milagre, ou seja, alteração do fluxo natural só vem através de você receber mais do que esta recebendo, este influxo divino.
E isso acontece através do desejo de compartilhar.
Portanto toda a forma de meditação deve vir pelo desejo de compartilhar.
A meditação dos 72 sopros de Elohim como um todo, reconstrói a essência do ser humano original, que vem a ser a semelhança e imagem do Criador.
E só somos semelhantes ao criador quando recebemos para compartilhar.
Shalom

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